quinta-feira, 18 de março de 2010

Eleições de 76

Diferentemente do pai – que se elegera quatro vezes seguidas para vereador apoiando o grupo liderado por Carlos Morais -, Gregório Alves da Cunha candidata-se para o Legislativo Municipal pelo partido oposicionista. Sua trajetória política é formada por sucessivas vitórias. Na Câmara, defende expressivamente os interesses das classes mais pobres, especialmente dos moradores das comunidades do São Lourenço e circunvizinhanças, embora seu partido seguidamente não consiga êxito nas eleições para prefeito e vice.

Apesar dos incitamentos da política caririaçuense do início dos anos 70, Gregório preserva os velhos laços de amizade dentro da base partidária liderada por Raimundo Bezerra Lima, conhecido por Mundeza, ao qual seu pai Marcos Gonçalo Sobrinho era correligionário. Seu compadre e amigo Belizário Clementino Ferreira, prefeito da cidade, não consegue mudar o pensamento oposicionista do jovem vereador, que apesar de ter herdado formação política do pai, continua com o desejo insistente de mudança.

Para o mandato seguinte, que se estende até o ano de 1976, centenário do município, é eleito Mundeza para prefeito, declarado não-simpatizante da política implantada pelo deputado juazeirense Adauto Bezerra de Menezes, que posteriormente seria escolhido Governador do Ceará pelo general Geisel e referendado pelos votos da Arena - partido de sustentação do regime militar vigente - em eleições indiretas no ano de 1974.

O coronel Adauto começou sua carreira política em sua cidade natal Juazeiro do Norte a terra do Padre Cícero, integrando uma das mais importantes famílias da região do Cariri, situação que sem duvida, contribuiu para que ele se elegesse deputado estadual em três pleitos: 1958, l962 e 1966. Nas eleições seguintes alçou vôos mais altos, sendo eleito para a Câmara Federal e em seguida, como já falamos, foi escolhido Governador.

Não parou por aí sua carreira política, visto que, mais uma vez, foi eleito deputado federal em 1978 e vice-governador em 1982, quando voltaram a acontecer eleições diretas para os governos estaduais, nas quais foi eleito Gonzaga Mota com apoio dos coronéis Virgílio Távora, César Cals e Adauto, que assinaram, em março de 1982, o Acordo dos Coronéis ou o Acordo de Brasília.

Como conseqüência da bem articulada estrutura política montada pelos irmãos Bezerra, a vitória da Arena, em 1976, é esmagadora, elegendo 95% dos prefeitos do interior, enquanto sobram minguados 5% para o MDB. O governador Adauto Bezerra cria a Secretaria para Assuntos Municipais, a qual é entregue ao seu irmão Humberto e torna-se um importante meio de controle sobre as prefeituras dos municípios do interior. Caririaçu sai do domínio dos Morais, com a derrota de José Morais de Carvalho e a vitória da chapa de oposição encabeçada pelo construtor Raimundo Rodrigues Sobrinho, tendo como vice Clemente de Araújo Borges.

Vereadores eleitos em 1976: Moises Fernandes de Lima; José Benedito da Silva; Francisco Barros Marinho; Generino Trajano Feitosa; Gregório Alves da Cunha; José Agostinho de Freitas; Pedro Campos da Silva; José Roque Neto e Pedro Gomes de Lima;

sexta-feira, 12 de março de 2010

SOBRARAM APENAS OS CHOCALHOS

Uma grande seca dizimou todo o gado de Marcos Pereira. Ficaram apenas algumas pencas de chocalhos amontoados. Um compadre aconselhou o velho a vender os apetrechos, pois era muito difícil recuperar àquele rebanho.

Marcos ficou muito triste, passando a viver cabisbaixo, olhando os currais vazios e as cercas em total abandono. Uma desolação de fim de vida, que dava a paisagem sertaneja uma melancolia de cemitério abandonado. Pensava no trabalho que teve durante anos e anos trabalhando sob o sol escaldante da Carnaúba e do Bom Jesus, com a ajuda dos filhos, para juntar aquele gado e de uma só vez a estiagem levara tudo.

Como toda região do semi-árido nordestino, o sul do Ceará é sujeito a períodos de estiagem. Quando faltam as chuvas, as correntes de água param de correr e a seca marca a sua presença severa. Com a volta do precioso líquido, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores recuperam as folhas, o solo fica forrado de pequenas plantas, a fauna recupera suas forças, os rios e riachos voltam a correr, as lagoas e açudes transbordam e a temperatura baixa.

Em um encontro que teve com o Padre Cícero na Serra de São Pedro, o chefe do clã Pereira revelou ao patriarca a situação de desalento que as constantes secas provocavam na região da Carnaúba, onde a principal atividade era a criação. Mesmo com o retorno das chuvas os donos de terras não dispunham de recursos suficientes para se recuperarem dos prejuízos provocados pelas secas dos últimos anos do Século. Falou também da opinião do compadre, mandando vender a chocalhada.

O reverendo pediu paciência e acrescentou que iria mandar algumas cabeças de gado para ele criar em suas terras e o trabalho seria pago com uma parte da produção. O rebanho passou muito tempo em sua propriedade. Quando o pasto ficava escasso, os animais eram levados para uma propriedade do Padre Cícero na Serra do Araripe. Passaram-se os anos e Marcos Pereira orgulhava-se de contar essa história. Dizia aos netos que os chocalhos tornaram-se poucos.



































segunda-feira, 1 de março de 2010

A morte de Elias Paes


A roça e a criação de gado tornaram-se as principais atividades econômicas dos moradores da Ribeira do São Lourenço desde o início do povoamento. Algumas fruteiras como a banana representaram grande fonte de geração de renda familiar, onde a cana-de-açúcar destinada aos engenhos de rapadura também muito contribuiu para o desenvolvimento da comunidade até meados do século passado.

Tenho muita lembrança do sítio do meu avô. Eu ainda menino recebia com alegria o convite do meu pai para ir até o São Lourenço nos finais de semana. Ao chegar na sombra da cajarana da casa antiga, com o geep ainda parando pulávamos do veículo e saímos correndo em busca do baixio. Muitas vezes papai dava um grito fazendo com que a gente voltasse para dar a bênção ao avô e aos tios que ali se postavam a espera do encontro. Nosso avô respondia sempre o pedido de proteção com um meigo Deus te faça feliz.

Descíamos a ladeira numa velocidade muito grande. Queríamos pular no rio porque o tempo era curto. Depois do banho, seguíamos para o sítio do outro lado do curso da água onde éramos recebidos por uma diversidade de fruteiras. Não demorava e vô descia e aos poucos observava nosso comportamento. No começo alguns menos adaptados voltavam-se e de longe esperava a reação do velho, outros já acostumados com sua presença continuavam com as brincadeiras.

Não demorava e nosso avô vendo que estava tudo na paz, voltava para casa, sempre deixando alguma recomendação: tenham muito cuidado ao subir nas árvores; cuidado com esse pula-pula dentro do rio que é perigoso. Mais nunca reclamava das frutas que consumíamos, a não ser se estivéssemos jogando pedra para derruba-las.

Quando retornávamos tia Necy já estava com o almoço pronto. Depois, com o sol escaldante ficávamos nas sombras das árvores arrodeando os mais velhos, escutando as anedotas. Em uma dessas meu pai relembrava a história da falsa notícia da morte de Elias Paes que ao viajar à Bahia passou muito tempo sem mandar notícias e os parentes foram informados de que o mesmo teria morrido enquanto trabalhava numa fazenda lá nas bandas do Rio São Francisco. O seu irmão de nome Miguel ao chegar em casa encontrou a mãe muito aflita e aos prantos pedindo ajuda a Deus e a Todos os Santos porque ela não saberia resistir a tão triste notícia. Miguel vendo aquela situação ficou surpreso com o estado de revolta que sua mãe se encontrava, pois ela tinha passado por dificuldades piores e não tinha ficado daquele jeito, então perguntou: Mãe, eu não sabia que a senhora gostava tanto de Elias? E ela: É por causa da minha rede novinha meu filho que ele levou, acho que deram sumiço a ela!

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