Uma grande seca dizimou todo o gado de Marcos Pereira. Ficaram apenas algumas pencas de chocalhos amontoados. Um compadre aconselhou o velho a vender os apetrechos, pois era muito difícil recuperar àquele rebanho.
Marcos ficou muito triste, passando a viver cabisbaixo, olhando os currais vazios e as cercas em total abandono. Uma desolação de fim de vida, que dava a paisagem sertaneja uma melancolia de cemitério abandonado. Pensava no trabalho que teve durante anos e anos trabalhando sob o sol escaldante da Carnaúba e do Bom Jesus, com a ajuda dos filhos, para juntar aquele gado e de uma só vez a estiagem levara tudo.
Como toda região do semi-árido nordestino, o sul do Ceará é sujeito a períodos de estiagem. Quando faltam as chuvas, as correntes de água param de correr e a seca marca a sua presença severa. Com a volta do precioso líquido, a paisagem muda muito rapidamente. As árvores recuperam as folhas, o solo fica forrado de pequenas plantas, a fauna recupera suas forças, os rios e riachos voltam a correr, as lagoas e açudes transbordam e a temperatura baixa.
Em um encontro que teve com o Padre Cícero na Serra de São Pedro, o chefe do clã Pereira revelou ao patriarca a situação de desalento que as constantes secas provocavam na região da Carnaúba, onde a principal atividade era a criação. Mesmo com o retorno das chuvas os donos de terras não dispunham de recursos suficientes para se recuperarem dos prejuízos provocados pelas secas dos últimos anos do Século. Falou também da opinião do compadre, mandando vender a chocalhada.
O reverendo pediu paciência e acrescentou que iria mandar algumas cabeças de gado para ele criar em suas terras e o trabalho seria pago com uma parte da produção. O rebanho passou muito tempo em sua propriedade. Quando o pasto ficava escasso, os animais eram levados para uma propriedade do Padre Cícero na Serra do Araripe. Passaram-se os anos e Marcos Pereira orgulhava-se de contar essa história. Dizia aos netos que os chocalhos tornaram-se poucos.
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